
Humanismo
Momento histórico O Humanismo é considerado um período de transição entre a Idade Média e o Renascimento. Didaticamente, seu início em Portugal é em 1434, quando Fernão Lopes é oficializado no cargo de guarda-mor da Torre do Tombo (chefe dos arquivos do Estado), função que desempenhava desde cerca de 1418. O trabalho de Fernão Lopes seria escrever a história de vida dos reis de Portugal, ao que se dava o nome de crônica. Por essa época, já se presenciava, na Europa, o desenvolvimento do comércio e das cidades e a circulação da moeda. O feudalismo, que floresceu na Idade Média, começa a ceder lugar a uma nova ordem social, em que temos a semente do capitalismo. A burguesia, composta de comerciantes, artesãos, empresários, “banqueiros”, começa a ascender. Os senhores feudais têm de enfrentar não apenas a concorrência da nova classe como também a rebelião de camponeses, naturalmente prejudicados com a situação, já que, empobrecida, a nobreza começou a cobrar dos servos os impostos feudais em dinheiro e não mais em mercadorias ou trabalho; logo reivindicava-se não só melhoria das condições de ganho como também redução de impostos. A igreja começa a enfrentar processos de questionamento de suas posições e também movimentos antipapas. Em função da disputa pelo poder, houve uma época com dois papas, cada um apoiado por um grupo de reis. O homem começa a preocupar-se com o próprio homem, a voltar-se para si mesmo e para o mundo, para seu potencial: daí o nome “humanismo”. Vale lembrar que o período histórico em que há o humanismo, é o “renascimento”, onde ocorrem grandes expansões e descobertas marítimas em Portugal. A cultura e a sociedade No sistema feudal, os feudos produziam tudo o que era necessário para sua sobrevivência; para aquilo que não fosse produzido no feudo, existia um mercado de trocas: uma pessoa, por exemplo, pagava um quilo de lã com dois quilos de arroz. Quanto aos guerreiros, eram pagos com uma área de terra, já que não existia o dinheiro. Com o surgimento de burguesia, aparece, então, o comércio propriamente dito, com o desenvolvimento das cidades. O poder do senhor feudal começa a diminuir e a mudança de classe social deixa de ser encarada como uma impossibilidade ou um pecado. Tudo isso leva o ser humano a repensar sua existência e a realidade divina, já que se descobre capaz de agir por si mesmo, explorar o universo e mudar a ordem estabelecida. Com o advento da imprensa por volta de 1440 (Johann Gutenberg- 1397- 1468), em 1456 tem-se a primeira Bíblia impressa. Em Portugal, as mudanças se dão com mais vagar, mas a expansão ultramarina vai favorecer seu desenvolvimento. Características principais da produção artística • Surgimento do teatro português; • A poesia separa-se da música, embora coexistam as cantigas; • Maior interesse pelo ser humano e questionamento de suas atitudes; • Presença de um espírito mais crítico; • Valorização da historiografia (arte de descrever a história), já comprovada pela nomeação de Fernão Lopes; • Valorização dos escritos que encerrassem ensinamentos (prosa doutrinária). Principais autores e obras Gil Vicente Os dados biográficos de Gil Vicente são incertos, como muitos outros, em função da ausência de registros, Nasceu por volta de 1465. Sua primeira peça (Auto da visitação ou Monólogo do vaqueiro) foi encenada em 1502 e a última de que se têm notícia (Floresta de enganos), em 1536. Seu mérito foi a criação do teatro português, para o qual escreveu sobretudo autos (gênero dramático baseado principalmente na alegoria, que é a personificação de elementos como o pecado, a virtude, anjos, demônios, etc., envolvendo muitas vexes a sátira) e farsas (comédia de costumes), por exemplo: “Auto da barca do inferno”; “Auto da alma”; “Trilogia das barcas”; “Farsa de Inês Pereira”; “Quem tem farelos?”; “Juiz da beira”; “Auto da fé”; “Auto da Índia”; “Auto da Lusitânia”. Outros autores • Fernão Lopes; • Gomes Eanes de Azurara; • Rui de Pina; • D. Duarte; • Garcia de Resende.
